sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

PAPA FRANCISCO E POVO JUDEU

CARTA PARA RESPONDER AO PAPA FRANCISCO SOBRE FRUSTRAÇÃO.
Gheula Canarutto Nemni é uma educadora e escritora que vive em Milão, Itália.
Seu livro mais recente é (No) si puo avere tutto. (Não) se pode ter tudo.
COMENTARIO PRÉVIO - MS - NÃO FALAREI NADA A MAIS. NESTE BLOG TENHO DOIS ARTIGOS SOBRE INTELIGÊNCIA JUDAICA. HÁ MUITO, SIM, PARA CALAR!
Mondadorid 2015.
Caro Papa Francisco,
No apelo apaixonado pela justiça social que Sua Santidade fez em um discurso aos parlamentares Quenianos em Nairobi na semana passada, S. S. afirmou que "a violência, os conflitos e o terrorismo... são alimentados pelo medo e desespero ... nascido de pobreza e frustração."
No entanto, nada, nem mesmo desespero, pode justificar o terrorismo.
As raízes do terrorismo residem apenas na educação baseada em ódio. Nós Judeus temos muita experiência com desespero. Mas a nossa história mostra outras maneiras mais construtivas de lidar com ele. O desespero jamais foi uma justificativa para que os Judeus cometam atos violentos em nome da nossa religião.
Fomos levados, acorrentados, em desfile pelas ruas de Roma enquanto o nosso Santuário em Jerusalém ardia em chamas. Fomos atirados em anfiteatros onde leões famintos e espectadores ansiosos esperavam por nosso sangue. Fomos queimados em autos-de-fé, fomos chamados marranos (NT: porcos), nos foi proibido acender nossas velas e também as orações em nossa língua ancestral foram proibidas. Fomos expulsos da Espanha. Vagamos por muitos países à procura de um novo lar.
Fomos massacrados em pogroms, nossas sinagogas foram destruídas, nossos filhos alistados forçosamente em exércitos dos quais eles nunca voltaram. Fomos privados de nosso direito ao trabalho, à propriedade, ao voto e até a falar. Nos foi roubada a dignidade que todo ser humano deve desfrutar por direito, simplesmente por nascer.
Nossos dentes de ouro foram arrancados de nossas bocas e nossos braços marcados como se fôssemos animais enviados ao matadouro. Foi-nos dito "Volte para a sua terra natal" e agora que estamos casa eles nos dizem "Caiam fora daí".
Nós, Judeus, somos uma parte indissolúvel do tecido histórico do nosso mundo. A presença Judaica é o fio comum na maioria dos países do globo. Em todo lugar da terra onde chegamos, nós produzimos poetas, matemáticos, físicos, escritores, políticos, cientistas, médicos, inventores. Mesmo quando fomos trancafiados em guetos nunca paramos de escrever, pensar, discutir, produzindo o bem. Nós nunca colocamos nossas vidas em modo de espera, nem mesmo por pouco tempo.
Apesar de tudo isso, não ficamos cobrindo as cabeças com cinzas por milhares de anos. Nós carregamos o nosso destino em nossos ombros e amarramos a herança dos nossos antepassados ​​aos nossos corações e fomos à procura de um novo lugar onde se pudesse respirar novamente.
Se você é ensinado que cada instante na terra é a maior riqueza que você possui, e que a vida é o dom mais precioso que você recebeu ao nascer, não há nem tempo nem vontade de chafurdar na auto piedade. E não há espaço para o ressentimento.
Voltamos, sem nossos pais, nossos irmãos, nossos filhos, nossos maridos e esposas, para a Alemanha, Itália e França. Nós ficamos embaixo das janelas de nossas casas olhando para estranhos em que agora vivem em lugares que nos pertenciam antes da guerra. Arregaçamos as mangas, revelando números tatuados com fogo em nossos braços, e começamos tudo de novo, do zero.
Os países interessados ​​em ondas de migração devem estudar a história Judaica e o nosso modelo de integração. Em cada novo lugar que chegamos, mantivemos a nossa regra de ouro: Nunca escorregar em nossas lágrimas.
Nós não ficamos esperando por compaixão dos países que abriram as suas fronteiras para nós. Nós tentamos, desde o início, nos integrar no tecido social do lugar que estava nos acolhendo. E enquanto lhes agradecíamos, contribuímos com nossos talentos para o desenvolvimento e progresso, nosso e deles.
Há aqueles que usam o desespero como uma justificativa para assassinar inocentes. E há aqueles que põem o desespero de lado, trancando-os na gaveta da memória, e tentam subir de volta ao topo, focando em novas oportunidades.
Caro Papa Francisco, Secretário John Kerry, Hillary Clinton, e centenas de pessoas influentes do mundo que estão à procura de uma razão, por um motivo, por trás da transformação dos indivíduos em estilhaços letais. Ainda que vocês tenham pesquisado as vidas pessoais, trágicas destes assassinos (embora na maioria dos casos, eles vivam exatamente no mesmo padrão daqueles na sociedade que os rodeia), ainda que eles realmente tenham uma vida difícil, nada, nada, pode justificar uma ato de violência cega contra outro ser humano. Nada, nada, pode justificar o privar um indivíduo de outro amanhã. Buscar alguma justificativa significa apenas uma coisa: preparar o solo para o próximo ato brutal, D'us nos livre.
A História nunca maltratou uma nação mais do que vem maltratando o povo Judeu. Mas em todos os lugares aos quais o vento de ódio já nos transportou, nós temos nos integrado, aprendemos a língua local, recitando de cor Whitman, Eliot e Dickinson (NT: cantando Chico Buarque, comendo arroz e feijão,torcendo fervorosamente pela seleção). Nós inventamos o cheesecake pareve. A integração é algo que você tem que querer e tem de trabalhar todos os dias.
Jamais exigimos do lugar que nos acolheu para se adaptar às nossas regras. "Dina demalchuta dina" - a lei da terra deve tornar-se a sua lei também - diz o Talmud. Integração real, mesmo para o povo mais desesperado, pode ser realizada. Mas isso depende, em primeiríssimo lugar, dos valores transmitidos pela religião, pelas famílias e pelos professores daqueles que acabaram de chegar. E isso depende da vontade de se tornar parte da sociedade de uma forma construtiva e positiva.
Tradução: Marcos L Susskind
NT (1) - O texto é para ser lido e relido. Uma verdadeira "aula" sobre a distinção necessária entre desespero e frustração versus recurso ao terrorismo. Em minha opinião, a carta não deveria ser endereçada ao Papa Francisco, um verdadeiro amigo dos Judeus e um ser humano tolerante. Mas o texto é excepcional

NT (2): A educação para o ódio é mais fácil que a educação para a tolerância. No entanto a educação para o ódio suprime a coexistência, atrasa o progresso do imigrante e também das sociedades que o acolhe! É possível integrar-se mantendo suas tradições, sua fé de seus costumes. Há 2000 anos os Judeus vêm mostrando isto em lugares tão díspares como França e México, Índia e Brasil, Zaire e Costa Rica, EEUU e Ucrânia)
VISITE: http://mariosanchezs.blogspot.com.br/2015/10/inteligencia-judaica-segunda-parte.html

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